Noites e dias em nome do movimento

Noites e dias em nome do movimento Talvez nem seja a intenção, mas o 27º Festival de Dança de Joinville põe lenha na fogueira de uma discussão antiga entre os críticos de arte: o que é popular e o que é erudito? Onde acaba um e termina o outro? Enquanto os especialistas debatem – muitas questões não têm resposta unânime – , o público procura o que é do seu gosto. Há quem lamente nunca ter visto dançar a bailarina clássica Ekaterina Maximova, do Teatro Bolshoi de Moscou. E os passos de rua a la James Brown também têm seus fãs.

Polêmicas à parte, são esses gregos e troianos que o festival pretende reunir no Centreventos Cau Hansen a partir de hoje. Os passos disciplinados e seculares do balé clássico terão tanto espaço quanto o ritmo de calças largas da dança de rua. No meio disso, um público rotativo que, se for repleto, deve ultrapassar mais de 53 mil espectadores, o número de ingressos postos à venda, sem contar os visitantes que percorrem apresentações em shoppings, praças e pontos culturais da cidade. Nos onze dias de
espetáculo, a
dança de rua terá muitas chances de mostrar por que hoje atrai um dos públicos mais numerosos deste evento. A novidade será a participação do street dance numa noite nobre do evento, a de abertura. Uma das mais procuradas do festival, a abertura terá hoje, pela primeira vez entre as atrações, companhias que focam suas bases na dança de rua, hip hop e outras referências urbanas.

Com dez anos de estudos, a paulistana Discípulos do Ritmo já rodou o mundo com o espetáculo de luzes e ritmo “Geometronomics”, criado pelo alemão Niels “Storm” Robitzky, e que abre o festival. A S’poart, companhia francesa de hip hop criada em meados da década de 90, fecha a noite de abertura com “In Vivo”. Sobre o palco, a dança de rua também está entre os estilos mais concorridos: em dois dias de competição, 40 grupos estão inscritos.

Outra proposta do festival, o Encontro das Ruas (uma série de batalhas entre dançarinos, cantores e artistas do universo hip hop) segue firme este ano, com mais
opções de estilos para os
participantes. É uma das atividades que vai levar a dança ao ar livre e sem fronteiras. Uma das etapas de inscrição dos grupos foi a postagem de um vídeo no site Youtube, em um canal criado especialmente para o Festival de Dança. A dança contemporânea, que conquistou espaço nas últimas edições, tem um espaço especial para as apresentações. A Mostra Contemporânea de Dança tem na lista nove companhias convidadas, que revelam um cenário que percorrei op Brasil de Norte a Sul.

Para contrapor tanta força urbana, a Noite de Gala, no dia 20, se rende à beleza sem retoques da dança clássica. A novíssima São Paulo Companhia de Dança apresenta duas coreografias importantes no repertório do balé moderno: “Les Noces”, da russa Bronislava Nijinska, e “Serenade”, de George Balanchine, bailarino russo naturalizado americano. Os dois espetáculos estrearam este ano. A dança clássica também será foco dos debates com expectativa de serem os mais acalorados nos seminários sobre a educação da dança. Quem pode
ensinar
balé, e como atuam, afinal, as franquias de famosas escolas, são duas perguntas que serão lançadas aos que se preocupam em pôr as indefinições da dança sobre a mesa. E, talvez, sobre o palco.

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