As ruas se encontram na dança

DANÇA DE RUA BRASIL Os passos se reinventam, e a dança de rua ganha status em palcos contemporâneos e em novas leituras. Nunca a dança absorveu tanto a estética urbana quanto nos dias de hoje.


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No fim do mês de maio, Bruno Beltrão e o Grupo de Rua de Niterói apresentaram “H3”, o mais novo espetáculo da companhia, na Sadler’s Well, em Londres. A casa é um endereço de referência mundial de espetáculos de dança para grandes plateias. Antes de chegar lá, o coreógrafo e bailarino brasileiro fez muitas apresentações em outros palcos. Ele e os outros nove integrantes de seu grupo representam hoje o exemplo mais bem acabado da evolução de um trabalho de rua para a linguagem da dança contemporânea.

Em 2003, quando esteve no Festival de Joinville pela primeira vez com o espetáculo “Eu e Meu Coreógrafo no 63”, Beltrão ensaiava uma carreira internacional, hoje respeitada pelo coreógrafo francês Jeróme Bell, o americano William Forsythe, do Ballet de Frankfurt, e Anne Teresa De Keersmaeker, da companhia belga Rosas. Todos esses são nomes referenciais da atual cena coreográfica mundial. Todos eles aplaudem corpos que evoluíram do hip hop para outras manifestações da dança contemporânea. A
dilatação
destes limites e o hibridismo que os novos bailados possibilitam aos corpos que dançam são, hoje, duas referências fundamentais das transformações que a dança vem mostrando.

“As informações estão no mundo, elas se cruzam. Não podemos estabelecer uma explicação só para este tipo de acontecimento. Teríamos também que achar uma definição específica para dança contemporânea, que não tem uma cara única, é plural, se alimenta de várias manifestações”, diz a crítica de dança Silvia Sotter, que já integrou o conselho curador do festival e foi professora de Beltrão na UniverCidade, no Rio, onde ele começou a descobrir outros caminhos para o seu hip hop.

É com este novo status artístico que a dança de rua é a atração da Noite de Abertura do festival. Estarão no palco duas apropriações artísticas diferentes para este fenômeno que tem sido um dos vetores de renovação dos conceitos da contemporaneidade na dança. A companhia francesa S’Poart apresenta o espetáculo “In Vivo”, no qual
os bailarinos exploram
diferentes níveis do corpo em ângulos coreográficos inesperados. Os brasileiros da Discípulos do Ritmo trazem “Geometronomics”, que baila sobre as formas geométricas em evoluções recheadas de locking, popping e o hip hop dos b.boys. Sim, estas figuras que há quatro anos foram aceitas oficialmente pela primeira vez no maior festival de dança do mundo viraram mais do que só frequentadores do Encontro das Ruas. Atualmente, eles são um dos grandes inje-tores do novo na dança. A tal cultura urbana, com seus personagens totalmente freestyle, seus grafites e seus MCs vem dando novo beat ao balé.

“Há algum tempo a dança de rua entrou no festival, dando uma renovada, abrindo novos caminhos. Ela invade outros espaços da cultura urbana, mesmo arte comercial, colocando o grafite na galeria, por exemplo”, diz Victor Aronis, diretor executivo do festival e um entusiasta do Encontro das Ruas.

Essa reinvenção do jeito contemporâneo de dançar faz duo com as transformações da sociedade.
O alternativo aciona uma
inversão de papéis, transformando-se em mainstream.

“Isso é um processo histórico. Quando surgiram, o jazz e o blues eram do gueto, tornando-se depois algo até elitizado. Não digo que vai ser assim com cultura urbana, que ela vai se tornar elitizada. Mas há uma evolução do respeito a ela. Já nas décadas de 70 e 80 Basquiat e Keith Harring estavam nas galerias”, diz o grafiteiro gaúcho Trampo, referência nacional e interna- cional da street art e membro do conselho artístico do Encontro das Ruas.

CARLINHOS SANTOS


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