10 anos de Dança de Rua em Festivais

Dança de Rua em Festivais No ano de 2005 a Dança de Rua completa 10 anos no que diz respeito à modalidade em festivais e na história da dança brasileira. O Ballet é um nome francês embora já possa ser escrito em português (Balé). O Jazz escreve-se em inglês, pois não há nenhuma tradução para esta palavra. No sapateado alguns preferem dizer “TAP”, o Contemporâneo se escreve em português. Na Dança de Salão alguns nomes são latinos como a Salsa, outros são nacionais como o Samba, o Tango é argentino. Nas Danças Folclóricas existe uma vasta variação desde raiz à projeção. Por isso sou da opinião de manter o nome Dança de Rua na modalidade em festivais no Brasil e não Street Dance ou Hip-Hop embora saibamos que veio de fora.

Poucos sabem que existem diversas tribos dentro do movimento Hip-Hop e essas tribos NÃO se limitam somente à dança em si. Existem as tribos dos graffitteiros, dos rappers, dos b.boys e b.girls, dos dee jays (D.J.) e outras mais; pessoas que se dedicam ao movimento Hip-Hop e que desconhecem totalmente o que é um Festival de Dança, o que é uma concepção coreográfica, plasticidade, movimentação técnica em grupo, postura em palco e outros critérios que são avaliados em um festival de dança por jurados competentes. Essas pessoas são adeptos do hip-hop por instinto, por amor e por opção. Hoje é comum vermos pessoas do movimento Hip-Hop se intitularem conhecedores da cultura quando estamos falando de competição em Festival de Dança, que é outro mundo, outra realidade; eis a razão das divergências, confusões e intrigas.

Em São Paulo existem encontros do movimento Hip-Hop onde estão envolvidas todas as vertentes da cultura além, é claro, dos 4 elementos básicos: Graffitti, MC, B.Boy e DJ. Muitos que praticam por natureza não querem ver o hip-hop como competição num palco sendo julgado por um jurado de dança, isso deve ser respeitado; por isso devemos manter o nome Dança de Rua. O que antes era praticado nas ruas agora compete nos palcos e criou linhas e formas, estilizou a dança, remodelou-a com uma leitura melhorada, diferenciada, adaptada para uma arte cênica; e mesmo com tudo isso: sofremos por muitos anos duros ataques que os “críticos” de dança, empertigados pelo academicismo distantes da realidade do que o público realmente gosta de ver e dançar. Os grupos que surgiram no início da década sofreram muito com a discriminação, preconceito; esses realmente deram a “cara pra bater”. Uma bela apresentação era denominada: “bate estaca, poluição visual e sonora”. Falar mal do passado e do presente é fácil, mas só quem sentiu na pele o sofrimento poderá entender. Hoje em dia tudo está mais fácil para os grupos, está feito e pronto.
Ocorreram situações em que bailarinas olhavam com desdenho e de forma pejorativa nos festivais para os grupos de dança de rua e comentavam em voz baixa: “de onde vieram esses pedreiros?”, depois da apresentação mudavam o conceito e o tratamento.

Antigamente recebíamos críticas de quem era envolvido com a dança acadêmica. Hoje recebemos “críticas” dos PRÓPRIOS envolvidos da cultura Hip-Hop que não possuem percepção para compreender as mudanças que a dança de rua original obteve evoluindo para os palcos e adquirindo características profissionais. Hoje temos didática e metodologia de ensino, procedimentos estratégicos para agregar mais pessoas ao movimento, e melhor de forma profissional, conseqüentemente a nova geração inclusive seus próprios filhos poderão aprender dança de rua numa academia, num festival ou numa repartição pública; fato este que há anos atrás só era possível em lugares de difícil acesso e muitas vezes perigoso e sem segurança.
Existem profissionais da Dança de Rua viajando de ponta a ponta no país e exterior, graças à vitória da modalidade e obviamente da propagação do Hip-Hop no mundo inteiro. Pessoas que não tinham perspectiva nenhuma de vida sobrevivem hoje do mercado da Dança de Rua.
Infelizmente acontece no cenário da dança uma mania em desvalorizar os nossos próprios artistas, valorizando aquilo que vem de fora. Quando alguém vai para o exterior, volta ao Brasil com complexo de superioridade e arrogância, desfazendo-se dos brasileiros e muitas vezes aquilo que vem de fora não possui qualidade e nada de extraordinário; a regra não é geral, mas o fato é verídico.

Não podemos deixar de mencionar o ENDA BRASIL como o primeiro festival de dança que abriu suas portas para acolher a chegada da nova dança embora na modalidade livre em 1992. Eles nem sabiam o bem que faziam pra modalidade.
Em 1993 a Dança de Rua chegou à Joinville na modalidade Jazz. A primeira aparição no palco na época foi uma surpresa para todos. O grupo de Santos que se apresentou foi ovacionado por 5 mil pessoas no Ginásio Ivan Rodrigues (antigo local de competição) obtendo o primeiro lugar no Jazz. Foi uma revolução na dança segundo notificação da imprensa. Em 1994 o feito foi repetido (ainda na modalidade Jazz) ficando empatado em segundo lugar 2 grupos de Dança de Rua e não havendo nenhum primeiro lugar em conseqüência das polêmicas que começaram a ocorrer. O grupo de Santos empatou com o Grupo Street Soul de Curitiba que merece ser mencionado. A imprensa relatava o fato, o público pedia “BIS” e os concorrentes não sabiam o que fazer, diziam que naquela dança não existia técnica para ganhar de um grupo que ficava na barra da sala de aula o dia todo (?). Queriam jogar a nova dança para a modalidade Danças Populares, fato este contestado pelos participantes e que não aconteceu.

O Festival do Triângulo Mineiro em Uberlândia faz parte dessa história porque contribuiu para o incentivo dos grupos. Como não era exatamente um Jazz colocaram Jazz de Rua, o que mais se aproximava do estilo, mas, não era o certo e os grupos da região se confrontavam no palco e em alguns casos isolados na rua com brigas. Grupos expressivos como Brilho Negro, Balé de Rua, Os Intocáveis e Jazz de Rua competiam entre outros. Sabe-se de um grupo que passou por lá, conquistou o primeiro lugar 2 vezes e teve que ser escoltado pela polícia pra sair da cidade com segurança.

Depois de tanta polêmica o Festival de Dança de Joinville através de conversação com o Grupo de Santos, resolveu abrir a nova modalidade: Dança de Rua e foi assim que todos os outros festivais aderiram à chegada da nova dança (agora modalidade). Em 1995 oficialmente foi o primeiro ano de competição da modalidade Dança de Rua, e a coreografia que obteve o primeiro lugar foi “A Lenda” na categoria Amador 1 (somente com homens no palco). Em 96 venceu “Os Deuses”, no Amador 2, em 97 venceu novamente o mesmo grupo competindo na categoria profissional com “Os Bárbaros” (competiu só, não houve concorrentes), em 98 competiram 4 grupos e foi o último ano de competição do grupo de Santos na categoria Profissional/Máster, com a coreografia: Homens de Preto, ficando a classificação assim: 4º lugar Grupo Street Power de Santos/SP, 3º lugar Balé de Rua de Uberlândia/MG, 2º lugar Grupo Street Heartbeat de Curitiba/PR, 1º lugar Grupo Dança de Rua do Brasil de Santos/SP. Infelizmente esse ano foi também o último ano da categoria Profissional/Máster, agora é Avançado que muitos confundem, mas não é a mesma coisa.

Em 1999 foi um marco para a modalidade Dança de Rua porque o Festival de Dança de Joinville - pela primeira vez - reconheceu o profissionalismo da modalidade e resolveu convidar um grupo de dança de rua para se apresentar na noite de gala – fato inédito - denominando esse grupo como ícone da modalidade. Logo após, vieram mais convites para outros grupos em diversos festivais.



A Dança de Rua cresceu, contagiou, ganhou público, adeptos e veio pra ficar pra sempre no cenário da dança, levando inúmeras pessoas aos ginásios e teatros inclusive o Municipal de São Paulo, expandiu-se tanto que conquistou mais de três vezes o troféu transitório, obteve maior média em vários festivais, grupos revelações, melhor coreografia, prêmios em dinheiro, primeiros lugares em solos livres e duos livres com Faísca e Fumaça conquistando 2 primeiros lugares consecutivos; entrou no mercado da propaganda, e dos Congressos de Ed. Física (Fitness), invadiu a televisão, participa de programas e campanhas como Criança Esperança, e também artistas contratam profissionais para suas músicas.

A contribuição dos organizadores dos festivais de dança também abriu mercado e continua abrindo de norte a sul, leste a oeste, contratando profissionais de Dança de Rua para ministrarem cursos e serem jurados. Festivais como o Passo de Arte que sempre convidam grupos para abrilhantar a noite da Dança de Rua incentivando assim o crescimento da modalidade.


Desde o surgimento da modalidade (início da década de 90), sempre existiram grupos e coreógrafos que pesquisavam outras tendências fora do Brasil, fazendo aulas em Los Angeles, buscando Informações que chegavam através dos Vídeos Clips, Shows e filmes, fazendo assim com que a modalidade e a cultura Hip-Hop crescesse no país.

A Dança de Rua faz parte do Hip-Hop, sempre fez e sempre fará e não existe problema algum em falar hip-hop ou street; porque não existem divisões e diferenciações é tudo a mesma coisa, o que muda é “o jeito” de dançar e coreografar de cada coreógrafo que sempre é diferente um do outro e não os nomes. Quando se trata de Festival de Dança no Brasil o nome Dança de Rua precisa permanecer na modalidade, porque ela foi implantada há 10 anos nos Festivais com os critérios corretos de julgamento, e como estamos no Brasil deveríamos valorizar a nossa língua portuguesa permanecendo o nome Dança de Rua na modalidade como já é utilizado em todos os Festivais. Um dos critérios avaliados é a evolução de um grupo com entradas e saídas num palco; na cultura Hip-Hop isso não existe, apenas se dança, as competições são chamadas de batalhas, não existe coxia, plano de iluminação, temática. Trata-se de outro mundo, embora existam Festivais de Hip-Hop específicos com a finalidade de colocar esses critérios em julgamento que é perfeitamente possível, mas é preciso deixar bem claro que quando se usa o nome Hip-Hop trata-se de uma cultura MUITO abrangente que envolve uma complexidade de informações que fazem parte desse universo e que vão além da dança como já foi mencionado anteriormente.

Hoje a modalidade Dança de Rua está consolidada e quem achou que fosse apenas um “fogo de palha” se enganou.
O nosso Brasil é rico, temos a nossa cultura, nosso perfil, as nossas tradições, nossos costumes, nosso clima, nosso idioma, nossa economia, nossa vida e por que não o nosso Street? Ou melhor, a nossa Dança de Rua?!


Marcelo Cirino

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